8. E, quando estou bem acostumado a essa maneira de viver, eis que me deixo fascinar pela pompa de algum pedagogo pelo espetáculo de escravos mais cuidadosamente vestidos e guarnecidos de ouro que para um desfile público, e de um batalhão de criados resplandecentes. Igualmente me fascina uma casa onde tudo, até o solo que se pisa, é precioso, onde a riqueza é tão pródiga nos menores recantos, que mesmo os tetos reluzem, e onde uma multidão de cortesãos se oprime ao redor das fortunas que se desperdiçam. E que dizer daquelas águas límpidas e transparentes, que correm ao redor das salas de festa; e das próprias festas dignas de sua decoração?
9. Posso dizer que o luxo, ao sair de uma longa e ingrata temperança, me envolve de repente com seu brilho e me rodeia com seu tumulto, e sinto meus olhares vacilarem: eu o suporto menos facilmente à vista do que no pensamento; e retorno de lá não corrompido mas desencorajado: não mais sustento a cabeça alta no meio de meus pobres móveis, sinto pungir-me uma dor secreta e me ponho a duvidar sobre se todas aquelas suntuosidades não valem que as prefiramos. Nada há em tudo isto que mude meus sentimentos, mas não deixa de haver algo suscetível de abalá-los.
10. Resolvi seguir a varonil energia de nossos preceitos e introduzir-me na vida pública. Agradam-me as dignidades e os fasces: não certamente que a púrpura ou as varas do magistrado me seduzam, mas para estar na possibilidade de melhor servir meus amigos e meus próximos e todos os meus concidadãos e finalmente a humanidade inteira: com um ardor de noviço, inclino-me a seguir Zenão, Crisipo e Cleanto, nenhum dos quais, para falar a verdade, tomou parte nos negócios públicos, mas dos quais muitos se tornaram discípulos. |